terça-feira, maio 08, 2012

Indiferença, doença que mata


A nossa época é uma era de novidades. Traz mudanças tão profundas que mal temos tempo de analisar uma delas, e outra nos assalta. Não notamos o que se acha por perto, por maior que seja o perigo. A indiferença manifesta-se entre os indivíduos. Age nos costumes e se infiltra no presente.

Esse mal, acentuando-se em nossa época seria um desvio de comportamento, um costume, uma forma de sobrevivência, um mecanismo de defesa, de resistência, ou conseqüência do egoísmo e do medo? O fato é que todos nós, uns mais outros menos, estamos ficando indiferentes, "passamos ao largo" de muitas coisas, realidades, fatos e pessoas, em algumas situações, até de nós mesmos.

Estar indiferente é abandonar toda tentativa de interferir nas coisas, de mudar - o que acaba tornando a violência, a corrupção, o desrespeito, um hábito. A indiferença é a banalização do mal, a indiferença. A indiferença tem um poder devastador. Ela é a companheira doentia do dominador e opressor, também dos que preferem as desigualdades, a violência, o ódio e a morte. Os indiferentes, de uma forma ou de outra, ferem, rejeitam, excluem, matam. Está correta a conclusão: o contrário do amor não é o ódio, mas a indiferença.

Esta poderosa doença está presente em toda história dos seres humanos, ela é milenar. Já nos relatos bíblicos a indiferença é apresentada como um comportamento que impede a vida, a salvação do outro, gestos de solidariedade. Cito, a parábola do bom samaritano. O sacerdote e o levita passaram ao largo da vítima do assalto. Preferiram a indiferença e negaram-lhe socorro e cuidado. O samaritano, uma pessoa simples, atendeu aos gritos da vítima. Com facilidade verificamos que a indiferença das pessoas causou sofrimento e morte na história da humanidade.

Creio que podemos resistir, nos defender e sobreviver, resgatando e desenvolvendo outros valores e mecanismos de relações humanas que passem ao largo da indiferença. Uma vida associada ao exercício saudável da cidadania é um milagroso remédio contra o mal da indiferença. Quero dizer a vida participativa, o exercício de uma cidadania ativa, tornando-nos atentos e ligados a tudo e uns aos outros, envolvendo-nos com o sofrimento do outro e com a alegria de todos. Quando não nos isolamos em nossos "mundinhos", quando evitamos pensar só em nós mesmos, quando abrimos nossos olhos e ouvidos, os sinais nos constrangem e denunciam a nossa indiferença, movendo-nos para caminhos novos que transpiram vida, justiça, esperança e paz.

Uma vida social ativa, nos leva a uma saudável e constante briga contra a indiferença, impedindo que ela crie raízes em nós, em nossa comunidade, em nossa sociedade.

Longe de nós a indiferença, esta doença crônica que causa sofrimento e mata. Que a consciência abra sempre nossas algemas, descruze nossos braços, desanuvie nossos olhos, desperte nossa paralisia e mova-nos para o companheirismo, para a alegria da partilha, do afeto, da solidariedade e da construção de esperanças.

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