domingo, janeiro 23, 2011

"Felicidade é um caminho para evoluir"

A escritora Marleine Cohendiz que é preciso
ser questionador para alcançar oa felicidade
Para fugir das muitas fórmulas que tentam ensinar maneiras de ser feliz, a jornalista e escritora Marleine Cohen escolheu um outro caminho ao escrever sobre o assunto: dar ao leitor a oportunidade de descobrir o que é a felicidade e se questionar sobre o que o faz feliz.

Isso pode ser feito a partir dos muitos conceitos que a humanidade atribuiu ao termo, desde os gregos antigos até os tempos atuais. O cardápio está em seu livro, "A História da Felicidade", onde fez uma relação com os principais períodos históricos e as grandes linhas de pensamento que definiram as concepções de felicidade.

Mas ela adianta: o caminho para conquistar o tão almejado sentimento é fazer um mergulho no eu. "É preciso questionar-se, estar aberto, não pretender que a felicidade seja um fim, mas um caminho para evoluir", destaca. Confira mais detalhes na entrevista abaixo.

O conceito de felicidade mudou ao longo dos séculos?
Sem sombra de dúvida. No livro é possível observar que a história da humanidade é também a história felicidade. São linhas que se cruzam o tempo inteiro. Se houve guerras, descobertas, grandes navegações, se a ciência evoluiu ou estagnou, tudo repercutiu na forma como o ser humano percebia a vida e o sentido dela que, em última instância, é a felicidade.

Como era o conceito para outros povos?
Os gregos antigos achavam que felicidade era por predestinação. Na Idade Média era preciso estar próximo de Deus, de onde veio a religiosidade extremada, as penitências, as peregrinações. Os orientais apostaram no autoconhecimento. Já no século 18, com o homem racional, a felicidade passou a ter relação com qualidade de vida.

E hoje?

É a vez da ciência. Abram alas para os hormônios, para a química do cérebro, para os antidepressivos, os fármacos que fazem com que você tenha um bem-estar que não é natural. Essa é a felicidade que se concebe hoje em dia. É claro que você tem as vertentes: felicidade igual a consumir, a ter um corpo fantástico, a ter amigos, emprego maravilhoso, o que não deixa de ser consumismo. E aquela que, a meu ver é a mais séria, que é a proposta do evolucionismo, que aponta que o ser humano precisa da felicidade para evoluir.

Mas hoje parece que você é obrigado a ser feliz.
E se não é feliz, não consegue ser feliz e é discriminado por não ser feliz. Neste momento está evidenciada esta obrigação de ser feliz, de mostrar a sociedade que você se deu bem. Um exemplo: você está desempregado, indo procurar um emprego, que é o que vai te fazer feliz, mas se mostrar que está infeliz por não ter um emprego, não consegue o que te faria feliz.

Daí a busca por tantas fórmulas em livros de autoajuda.As fórmulas são uma tentativa, o fio da meada, mas o importante é destacar que o percurso é individual. Cada um tem que encontrar o seu caminho.

O que é preciso para encontrar a felicidade?
Se questionar: o que é a felicidade para mim? É qualidade de vida, consumo, estar perto de Deus, praticar o autoconhecimento? Felicidade, na definição que damos hoje, é saciedade nos quesitos ter e ser. Você quer se saciar tendo, então o que deseja consumir? Você quer se saciar sendo, então o que deseja ser?

Como achar a resposta?
Dentro de você. Cada um vai saber o que o faz feliz. O que falta é um olhar para o interior. O livro faz um inventário do que temos à disposição em termos de conceito de felicidade ao longo dos tempos e oferece um prato com todas as opções possíveis e cada um faz o seu combo. A proposta do livro é se questionar. Você escolhe, não é um prato feito.

Sempre foi importante ser feliz?
Sempre. É uma busca do bem-estar para se sentir pleno. Mas apesar da felicidade ser saciedade, o homem, pela própria condição humana, é de natureza insaciável. Então a grande lição que devemos tirar é que não existe felicidade plena, porque a nossa condição vai mudando. Num momento precisamos de algo e no seguinte estamos em busca de novas demandas. Por isso é importante acumular pequenas saciedades e curtir esse momento porque logo virá uma nova demanda provocada pela insatisfação crônica do ser humano.


Mas é preciso estar aberto a se conhecer, propõe jornalista que escreveu sobre o tema




Sem essa compreensão...
A pessoa fica louca por não conseguir contemporizar. Felicidade não é um patamar que se conquista e, a partir daí, se tem uma janela para olhar o mundo e pronto: sou feliz! Felicidade é um processo.

Com momentos de não-felicidade.
Sim. E é preciso aceitar, admitir os momentos de não-felicidade, porque são eles que nos impulsionam a seguir adiante e a buscar novos patamares de felicidade. E eles podem acontecer logo, ou demorar, ou acontecer várias vezes na vida de uma pessoa. É por isso que digo que existe pelo menos uma fórmula de felicidade para cada habitante do planeta.

Mas como lidar com as mui tas ofertas que, supostamente, nos fazem felizes?
Se ceder a pressão pela compra de um carrão, saiba que daqui a pouco o mercado vai te oferecer um produto ainda melhor, ou uma casa, um sorriso perfeito, um corpo maravilhoso... Daí a um ano tudo isso também estará defasado, gerando infelicidade porque ficou para trás. Tem pessoas que vivem correndo atrás da atualidade tecnológica, dos bens de consumo, como se isso fosse torná-las plenas, o que é absolutamente impossível. E são infelizes. É função do capitalismo oferecer alternativas de consumo para todos os bolsos, mas não somos só bolso, somos limite. E o limite está localizado dentro de cada um de nós. É preciso exercitar outros lados do seu ser.

Você encontrou o caminho?
 
Não sou especial. Sigo aos trancos, barrancos e tropeços, como todos. Valorizo o questionamento, o autoconhecimento, a abertura para se descobrir. Somos um poço de mistérios para nós mesmo e o grande barato é se conhecer, o que pode levar a mais felicidade. Na relação consigo mesmo está a relação com o mundo. Gosto do mergulho no eu.

Qual a dica para seus leitores?
Questionar-se, estar aberto, não pretender que a felicidade seja um fim, mas um caminho para evoluir, para se conhecer. A felicidade é uma busca do ser humano, mas a infelicidade é um mal necessário para tornar essa busca mais firme e definitiva. Para ser feliz é preciso assumir que não está bem e que tem que melhorar. Veja o que os nossos ancestrais fizeram, o que a história da humanidade oferece em termos de alternativas de direções a seguir, veja se alguma delas lhe apetece e boa viagem em direção a sua felicidade.

A felicidade e a história

Confira: 

Lançamento. A História da Felicidade - Uma Palavra Singular com Sentido Plural é um lançamento da Editora Saraiva, a R$ 34,90. No livro a autora faz um levantamento sobre todos os conceitos de felicidade ao longo dos séculos, dos gregos antigos aos tempos modernos.

Quem é. Marleine Cohen é jornalista especializada em meio ambiente, passou por algumas das grandes redações de São Paulo, nas quais também escreveu sobre comportamento feminino e direito do consumidor.

Outras publicações. Em 2005, publicou sua primeira biografia, JK, Presidente Bossa-Nova, obra incluída na lista dos dez livros de não ficção mais vendidos da revista Veja. Dois anos depois, lançou outro trabalho biográfico: Sim, sou eu, Alberto, sobre Santos-Dumont

Formação. Fez jornalismo nas Faculdades Objetivo; História, Política e Filosofia na École des Hautes Études en Sciences Sociales, França; e especialização em Sorbonne, Paris.


Vilmara Fernandes  
A Gazeta

Um comentário:

  1. Anônimo3:22 PM

    Acredito que só reconhecemos a felicidade quando passamos por momentos de infelicidade,muitas vezes queremos o tempo todo "ser feliz"e na verdade o importante é "estar feliz" por alguns momentos .

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